Inserção na Escola

05/04/2015 20:25

A inserção dos filhos com alguma deficiência na escola era um assunto que assustava os pais, e com toda a razão, pois havia toda uma legitimidade na raiz do problema.

Há trinta e poucos anos, minha entrada na escola se deu por intermédio de uma tia minha que, por ser professora de lá, na época, influenciou na decisão das diretoras em me aceitar, mesmo a contra gosto. É verdade. Não queriam que um deficiente frequentasse um ambiente de aprendizagem dito para alunos normais. – Não temos estrutura para ele! – Disseram as tais diretoras; finalmente, e só pelo prestígio de minha tia no meio, transformaram todo o discurso, assim: “Olha, vamos aceitá-lo, mas que você não nos venha pedir outra coisa semelhante. Vai ser esta a última vez que fazemos o favor pra você!”.  

Pelo que posso recordar, embora depois dessa entrada nada triunfal, tudo transcorreu normalmente. Quase sempre, pelo menos.

 A vicissitude a qual vêm à minha memória, e que hoje me ponho a refletir quão discriminado fui naquela época se deu numa festa onde, a fim de incutir-nos a ideia do manejo com dinheiro, entre os alunos todos, eu sempre era escolhido para ser o “responsável” pelo Banco que disponibilizava a grana para que a criançada pudesse gastar nas brincadeiras, e comes, e bebes. Ou seja, eu passava a maior parte do tempo entretido com notas de dinheiro feitas de papel, “aprimorando” os conhecimentos matemáticos, enquanto as outras crianças se divertiam a valer. Por mais que pareça algo inofensivo, a meu ver, todas as marcas que nos deixam na infância, boas ou ruins, virão à tona em algum momento posterior na nossa remota lembrança. Acho que não por acaso lembro, então desse episódio, com certa estranheza.

Anos mais tarde, no engajamento para achar uma escola ginasial, porquanto aquela primeira terminava seu trabalho quando os alunos atingiam certa idade, a estória também se repetiu. O mesmo discurso ensaiado saiu de muitas bocas de vários donos de escolas: “Não temos estrutura para acolher seu filho.” – E não havia argumentação bastante para convencê-los do contrário. – “Mas, ele tem uma ‘cuidadora’, que satisfaz todas as necessidades dele... Sobe, desce escadas. Troca fralda... etc. Vocês não terão trabalho extra algum.” – Era inútil dizer. Quaisquer investidas dos meus pais em convencê-los do contrário eram rebatidas com um sonoro NÂO!

Todavia, segui meu rumo na vida estudantil. Com muito custo e suor dos meus pais que foram incansáveis, frente todas as adversidades.

Penso que, para que houvesse uma maior assertividade no sentido de que o deficiente tem, sim, direito a Educação, muitos, os mais velhos dessa luta por assim dizer, passaram por maus bocados e, agora, os subsequentes desfrutam do ônus dessa guerra.

Este é um recado mais para os pais... Apesar de as coisas estarem bem melhores do que há anos, ainda há muito que fazer. Não desistam de lutar pelos seus pequenos guerreiros, que, por enquanto, não têm voz ativa na Sociedade para buscarem o próprio lugar ao sol.

Valerá muito a pena.

 

Autor: João Lucas Costa