Cateterismo Vesical - Parte I

17/03/2015 17:31

Assim como eu muitos portadores de mielo necessitam fazer o cateterismo para ter um maior controle do sistema urinário. Neste artigo irei contar um pouco sobre minhas experiências com o cateterismo.

Até os 14 anos usei fralda pois não possuo controle dos esfíncteres uretral e anal além de ter bexiga neurogênica e hiperativa, porém aos 14 anos, no verão de 2005, eu estava com meus pais em uma consulta em Porto Alegre/RS com um urologista o qual sugeriu que eu fizesse uma Enterocistoplastia, uma cirurgia que consiste em utilizariar 30cm do meu intestino grosso(também pode ser utilizado o estômago, ambos tem suas vantagens e desvantagens) para a criação de uma nova bexiga, maior e melhor, pois a minha tinha capacidade para apenas 200ml de urina. Nesta mesma cirurgia minha uretra seria fechada, passando um "anel" ao redor do esfíncter e a partir desse ponto eu precisaria me sondar para esvaziar a bexiga.

Na hora em que o médico sugeriu a cirurgia eu a aceitei sem pensar duas vezes e marquei a cirurgia para duas semanas depois, a fralda sempre foi uma coisa que me incomodou, já que é dificil para um adolescente ter uma vida social enquanto tem que carregar uma frasqueira com fraldas e lenços umedecidos pra todo lugar. Todos meus amigos perguntavam o que eu tinha lá dentro, na maioria das vezes conseguia desviar das perguntas, eu contava a verdade apenas a alguns amigos mais íntimos.

Saindo da consulta voltei para Criciúma/SC para aproveitar o pouco do verão que me restara antes da cirurgia. Duas semanas depois voltei a Porto Alegre e a cirurgia foi um sucesso, segundo o médico eu precisaria de um mês de internação para que pudesse me recuperar, tinham sido colocadas 3 sondas, duas saindo de cada lado da barriga e uma na uretra, uma delas estava conectada ao soro o qual saía por outra sonda para assim retirar o sangue seco e urina da nova bexiga, mas foi aí onde começaram as complicações, eu comecei a ter dores abdominais horríveis, meus gritos acordavam o andar inteiro do hospital, eu tinha morfina misturada no soro 24hrs e a infermeira injetava mais quando a dor estava insuportável.

Depois de dois meses no hospital as dores diminuiram e eu pude ir para casa do meu avô emprestado que morava em Porto Alegre, lá ainda com as 3 sondas fiquei de cama por 3 meses esperando que o sangue da bexiga diminuisse para que as sondas pudessem ser retiradas. Nesses 3 meses sentia dores, tentei, por recomendações médicas, fechar as sondas algumas vezes para ver se já podiam ser retiradas mas as dores aumentavam quando às fechava. Um dia tive que ir ao pronto-socorro pois não pude aguentar a dor e lá meu médico finalmente decidiu fazer um teste, fechou as sondas e injetou soro na bexiga por uma delas, ao chegar aos 50ml eu gritei de dor, sim, em vez de aumentar minha bexiga estava menor do que antes da cirurgia, na hora o médico fez um exame de urocultura e o resultado era que eu estava com uma quantidade enorme de uma bactéria chamada Staphylococcus Aureus, uma super bactéria que provavelmente eu tinha contraído no hospital, fui internado novamente já que o antibiótico só podia ser administrado pela veia. Depois de um mês a bactéria finalmente foi derrotada e nesse ponto o sangue da bexiga já tinha sido completamente eliminado  e a bexiga estava com capacidade para 1 litro de urina, então pude voltar para casa.

Em Criciúma meus pais contrataram um enfermeiro para me ensinar a fazer o cateterismo, como eu sempre fui curioso aprendi na primeira tentativa e por um ano tive algumas infecções urinárias um pouco fortes, fiz alguns retornos a Porto Alegre, mas nada alarmante, após esse ano foi onde as coisas complicaram novamente.

Muito obrigado a todos que têm me apoiado e seguido meu blog, continuarei a contar a minha experiência com o cateterismo na segunda parte. Qualquer dúvida ou sugestão comente abaixo.

Clique Aqui para ler a segunda parte do artigo.

Vitor Hugo Medeiros do Nascimento

Tem 25 anos, ensino superior incompleto em Direito. Foi portador de mielomeningocele, hidrocefalia, pés tortos congênitos, bexiga neurogênica, fez 15 cirurgias.